Estimular o comportamento empreendedor relaciona-se com o desenvolvimento do potencial do indivíduo. Atualmente isso tem sido preocupação de muitos: professores, educadores, coordenadores, gestores de escolas e faculdades, pais, especialistas e políticos -- do legislativo e do executivo.
Sabe-se que o pleno desabrochar das competências empreendedoras abre possibilidades diversas de escolhas de carreira e não apenas a de abrir e gerir o próprio negócio.
Esse comportamento marcará a ação da pessoa em quaisquer situações e organizações em que se insira, seja dentro das organizações (como intraempreendedor), como empreendedor social ou político, nas atividades filantrópicas, comunitárias e religiosas, ou mesmo na condução da própria vida.
Para Fábio Fowler, diretor do Centro de Empreendedorismo da Unifei, ser empreendedor é criar e gerenciar projetos. Ora, o indivíduo empreendedor terá esta postura de encarar quase tudo como projetos a serem realizados. E o resultado positivo lhe trará a realização pessoal.
Acontece que o desenvolvimento do comportamento empreendedor é favorecido, desde cedo, pelos pais e responsáveis pelas crianças. É o fruto de formas de educar e socializar desde a infância.
David MacClelland, psicólogo e pesquisador das Universidades Harvard e de Boston (já falecido), e outros pesquisadores mostraram, nos anos 60 e 70, que certos pais estimulam suas crianças a desenvolver suas habilidades e independência.
Desde as brincadeiras infantis eles reforçam positivamente, elogiam e fazem com que as crianças testem brincadeiras e novas formas de utilizar seus brinquedos. Estimulam-nas a lidar com as situações e pessoas. Encorajam-nas a dar novos passos e alcançar o nível seguinte da habilidade.
Ante o insucesso e o choro, ouvem, aceitam e amparam, e depois reforçam a crença de que seus filhos têm capacidade de continuar (logicamente com cuidado para não transgredir as possibilidades reais da criança). Estimulados a voltar e a tentar novamente, treinam a persistência e a tolerância às dificuldades.
Isso ajuda os filhos a estabelecer objetivos e a conquistar. Os feitos são elogiados e celebrados, o que incentiva a iniciativa e a responsabilidade. Ajuda a aprender e avaliar os resultados.
Deste modo, todo o tempo, os pais propiciam o fortalecimento da autonomia e da segurança, dentro dos limites que sejam apropriados para suas idades e capacidades.
Protegem se for necessário, mas não os superprotegem ou assumem atividades e responsabilidades que seriam deles. Fazem-nos compartilhar tarefas em casa. Aliás, este tipo de socialização é mais frequente em sociedades influenciadas pela ética protestante de trabalho.
Testemunhei nos EUA como as crianças são treinadas a se vestirem sozinhas (principalmente o casaco de inverno, pois representa sobreviverem no frio). Elas sabem desde cedo seus nomes e o dos pais, endereço onde moram, onde trabalham os pais, telefones de contato.
Aprendem a se virar e buscar alimento quando têm fome. Numa atitude bem oposta ao que observei relativamente a amigos e conhecidos que servem até os filhos adolescentes.
Já testemunhei pais esquentarem refeições já prontas no micro-ondas para o filho adolescente. Esta infantilização prolongada é contrária ao desenvolvimento do comportamento empreendedor.
Assim, mesmo que escolas e faculdades queiram estimular nele a iniciativa, a independência, o estabelecimento de metas, o enfrentamento de desafios, ele terá dificuldade. Pode se chocar, se sentir inseguro, pois estas capacidades não lhe foram demandadas antes.
Terá dificuldade para desenvolver o senso de autoeficária: acreditar que dará conta do recado. E, mesmo que se esforce e se dedique, certamente terá perdido tempo e oportunidades.
Então fica aqui o recado para pais e responsáveis: a superproteção é antídoto do comportamento empreendedor. Para desenvolver o comportamento empreendedor há que incentivar a iniciativa, autonomia, e responsabilidade desde cedo e reforçar os bons resultados alcançados.
ROSE MARY LOPES
Professora e coordenadora do núcleo de empreendedorismo da ESPM.
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